A Importância dos investimentos ESG em números

O cenário financeiro global está passando por uma notável transformação à medida que os investimentos sustentáveis conquistam espaço. Em 2022, os ativos classificados como sustentáveis chegaram a quase 25% de todo o mercado.

A regulação tornou-se um ponto focal crucial à medida que os ativos sustentáveis ganham proeminência. Para evitar práticas enganosas, reguladores estão atentos ao “greenwashing”, e diretrizes têm emergido para incentivar a transparência nas divulgações ESG.

Além disso, a preocupação crescente com as questões ambientais, sociais e de governança não é apenas uma tendência, mas uma mudança de mentalidade palpável entre os investidores. A demanda dos clientes, o benefício para a sociedade e a busca por tendências de mercado emergem como motivações-chave, evidenciando que os investimentos ESG não são apenas uma escolha financeira, mas uma resposta às preocupações globais.

Essa mudança não está limitada à gestão financeira tradicional. Investidores e gestores alternativos estão alinhando suas estratégias com critérios ESG, reconhecendo a relevância desses fatores na escolha de gestores e na tomada de decisões de investimento. A inclusão de temas como Mudança Climática e Diversidade e Inclusão nas políticas de gestão evidenciam não apenas uma tendência, mas uma transformação duradoura que está moldando o futuro dos mercados globais.

Neste texto, buscamos destacar a importância da temática ESG sob diferentes perspectivas: o tamanho do mercado, a regulação e a preocupação dos investidores.

Tamanho do Mercado

O mercado de ativos sustentáveis tem testemunhado um crescimento notável. Dentro do universo dos ativos sustentáveis, uma gama diversificada de investimentos se destaca, refletindo o compromisso crescente com práticas ambientais, sociais e de governança. Os títulos verdes, por exemplo, financiam projetos voltados para a sustentabilidade ambiental, como energia renovável e eficiência energética. Fundos de investimento socialmente responsáveis (SRI) direcionam recursos para empresas com sólido desempenho em critérios ESG, enquanto os green bonds fornecem uma oportunidade de investir em projetos específicos com benefícios ambientais claros. Além disso, os índices de sustentabilidade agrupam empresas que adotam práticas responsáveis. Esse ecossistema de ativos sustentáveis não apenas diversifica as opções de investimento, mas também impulsiona uma transformação positiva no panorama financeiro, alinhando o crescimento econômico com os princípios de sustentabilidade.
Segundo o último relatório da Global Sustainable Investment Alliance1, em 2022, os ativos classificados como sustentáveis ultrapassaram os 30 trilhões de dólares, representando um aumento de 33% desde 2016. Notavelmente, a Europa lidera com 46% do total destes ativos.


Fonte: Global Sustainable Investment Review 2022

 

É compreensível que a Europa e os Estados Unidos detenham a maior parte desses ativos, dada a extensão de seus mercados. Quando consideramos a porcentagem em relação ao mercado global, os ativos sustentáveis representam 24,4% de todos os ativos. Regionalmente, destacam-se Canadá (47%), Austrália e Nova Zelândia (43%), Europa (38%) e Japão (34%). Nos Estados Unidos, a proporção de ativos sustentáveis ainda é modesta, atingindo 13%.

Regulação

Com o mercado de ativos sustentáveis ganhando relevância, os reguladores também têm se preocupado com o tema, buscando principalmente evitar que empresas enganem investidores dizendo que possuem políticas relacionadas aos temas ESG, mas que na verdade não fazem nada na prática, o chamado greenwashing. Para tentar mitigar esses problemas, foram criadas diversas diretrizes que incentivam ou exigem que as empresas divulguem informações sobre riscos e oportunidades ESG relevantes. As principais estão relacionadas a questões climáticas, como a TCFD (Task Force on Climate-Related Financial Disclosures) que utiliza a meta do Acordo de Paris de permanecer bem abaixo de 2°C, com a ambição de permanecer abaixo de 1,5°C, tentando operacionalizá-la para o mundo dos negócios. Os quatro pilares das recomendações do TCFD são:

  • Governança: divulgar como a organização trata os temas relacionados ao clima
  • Estratégia: divulgar o atual e o potencial impacto dos temas relacionados ao clima no negócio
  • Gestão de risco: divulgar como a empresa identifica, avalia e administra os riscos relacionados ao clima
  • Métricas e alvos: divulgar quais as métricas e alvos utilizados

Apesar de serem apenas recomendações, alguns países têm tornado essas divulgações obrigatórias e outros estão prestes a fazê-lo.

Adicionalmente, na Europa, um arcabouço regulatório crescente visa aumentar a divulgação de dados ESG por parte de grandes investidores. Um exemplo é a regulação dos fundos de pensão no Reino Unido, que agora devem divulgar como consideram os fatores ESG em suas políticas de investimentos, sujeitos a multas caso não cumpram a determinação. Além disso, fundos de pensão com mais de 1 bilhão de libras em ativos devem publicar um relatório anual sobre mudança climática.

Preocupação dos investidores

Além de ganhar relevância e atrair a atenção das autoridades, as preocupações com questões ambientais, sociais e de governança estão cada vez mais presentes entre os investidores. De acordo com uma pesquisa do Deutsche Bank2, realizada no final de 2021:

  • 54% integram fatores ESG em suas análises.
  • 15% buscam empresas mais bem ranqueadas em quesitos ESG (best in class)
  • 14% excluem setores sensíveis (negative screening)
  • 7% fazem investimentos de impacto
  • Apenas 10% dos investidores não têm nenhuma estratégia ESG


Fonte: Deutsche Bank Research

 

Outra pesquisa, conduzida pelo BNP Paribas3, revelou que 51% dos investidores utilizam dados e fatores ESG em suas decisões de investimento, e 42% os integram em suas práticas de gestão de risco.

A pesquisa do Deutsche Bank ainda destacou as principais motivações para a incorporação de fatores ESG, sendo a demanda dos clientes a principal razão citada por 63% dos entrevistados. Além disso, 54% mencionaram o benefício para a sociedade, enquanto 51% buscam acompanhar as tendências do mercado.


Fonte: Deutsche Bank Research

 

Já uma pesquisa focada em investimentos alternativos, o grupo europeu LGT Capital Partners4 mostrou que 73% dos investidores acreditam que ESG é relevante para a escolha de gestores alternativos e 54% deles está preparado para excluir gestores baseados em questões ESG. Na mesma pesquisa, 52% dos gestores possuem políticas para endereçar a Mudança Climática em suas decisões de investimento, enquanto 36% planejam ter nos próximos 2 anos.

Além disso, 35% dos gestores levam em conta o tema Diversidade e Inclusão em suas decisões de investimento, e 27% planejam incluí-lo nos próximos 2 anos.

E não é apenas na gestão dos investimentos que os temas ESG são levados em consideração. A mesma pesquisa da LGT Capital Partners concluiu que 48% dos entrevistados já possuem uma política de Diversidade e Inclusão em suas gestoras e 20% pretendem tê-la dentro de 2 anos.

Um mercado significativo e com potencial de crescimento

Com mais de 30 trilhões de dólares em ativos sustentáveis e uma mudança de mentalidade evidente, os investimentos ESG não são apenas uma tendência, mas uma revolução. Dos títulos verdes aos índices de sustentabilidade, a diversidade de opções reflete um compromisso abrangente. Regulamentações como a TCFD sinalizam transparência crescente. À medida que os investidores integram fatores ESG, a busca por lucros se alinha à responsabilidade social.

Essa convergência é especialmente notável ao observarmos a crescente preocupação dos investidores, em particular, da nova geração. Testemunhamos os impactos da falta de atenção ao tema no meio ambiente e na sociedade. Este cenário propicia um ciclo virtuoso, onde a demanda crescente por investimentos ESG impulsiona uma oferta mais ampla de produtos e serviços. Consequentemente, o mercado se torna mais regulado, proporcionando uma segurança adicional para a entrada de novos investidores.

Na Jera, acreditamos no crescimento da preocupação com os temas ambientais, sociais e de governança e buscamos mapear os riscos materiais e as oportunidades nos nossos investimentos.

Fontes:

  1. Global Sustainable Investment Review 2022
  2. Deutsche Bank Research
  3. BNP Paribas ESG Global Survey 2023
  4. LGT Capital Partners ESG Survey