Integração ESG nos investimentos: uma tendência que deverá crescer cada vez mais

O mundo dos investimentos vem passando por algumas mudanças nos últimos anos. Uma delas se refere às preocupações com as questões ESG (acrônimo em inglês para os temas Ambientais, Sociais e de Governança). Sempre houve muita preocupação em termos de governança ao se analisar um investimento. Porém, preocupações relacionadas a pandemias, aquecimento global e denúncias de trabalho análogo à escravidão trouxeram à tona as questões ambientais e sociais.

 O que é a integração ESG nos investimentos?

A integração ESG nada mais é do que a incorporação de fatores ambientais, sociais e de governança na análise de investimentos e gestão de portfólios.

Dentre as principais questões levadas em conta estão as seguintes:

  • Ambientais: mudança climática, esgotamento dos recursos naturais, poluição, desmatamento
  • Sociais: direitos humanos, escravidão moderna, trabalho infantil, condições de trabalho
  • Governança: suborno e corrupção, remuneração dos executivos, estrutura e diversidade dos conselhos de administração.

O tema ESG possui dois pontos de vista: o dos riscos e o das oportunidades.

Os riscos acabam parecendo mais óbvios, já que vemos muitas vezes os preços dos ativos serem afetados quase que instantaneamente quando ocorre algum tipo de acidente ambiental ou há a revelação de algum escândalo envolvendo condições precárias de trabalhadores, por exemplo.

Já as oportunidades, podem aparecer através da:

  • redução de custos, como a utilização mais sustentável dos recursos
  • maior utilização de um determinado material por conta de uma mudança de algum hábito de consumo por um mais sustentável, como a eletrificação dos veículos
  • ou pelo surgimento de novos mercados, como o de crédito carbono.

Como realizar a integração ESG?

 A integração ESG pode ser feita nas mais diversas classes de ativos, como as ações, crédito privado, private equity, imobiliário e infraestrutura.

Existe um grande desafio em se integrar os aspectos ESG na decisão de investimentos já que não existe uma metodologia padrão, ou seja, não há uma “receita” que se adeque a todas as necessidades.

O método mais simples e utilizado há mais tempo é o do filtro negativo, onde o investidor define uma lista de setor e empresas nas quais ele nunca investirá. Normalmente essas listas incluem setores controversos, como o de armamento e tabaco, e empresas que possuem problemas de governança, com histórico de fraudes e malfeitos de seus controladores.

Uma outra maneira seria o oposto do filtro negativo, ou seja, investir nas empresas com as melhores práticas ESG dentro de seus universos, também chamado de best-in-class.

Uma maneira que tem tido bastante aceitação entre os gestores é integrar aspectos ESG nas premissas utilizadas na avaliação dos investimentos. Uma gestora de fundos de ações pode incluir em seus modelos, por exemplo, o aumento dos custos de uma determinada empresa devido à escassez de água ou energia para manter sua operação, ou o risco de multas caso ocorra algum acidente ambiental. Existe também a possibilidade de empresas menos atentas aos fatores ESG terem o seu custo de financiamento elevado, e assim ter uma maior despesa financeira no futuro e, consequentemente, um lucro menor.

Além disso, muitos investidores se utilizam de suas posições acionárias nas empresas para engajá-las a adotarem práticas mais sustentáveis, gerando valor no longo prazo, tanto para seus acionistas quanto para a sociedade.

 Por que integrar ESG?

 A integração ESG pode ser motivada por diversos fatores.

Do lado dos clientes, há uma crescente demanda por alinhamento de seus investimentos com os seus valores e a exigência por uma maior transparência sobre como seu dinheiro está sendo investido. Além disso, estamos vivendo uma transição para uma geração que tende a ser mais preocupada com os temas ESG.

Do lado dos gestores, existia uma noção de que a inclusão de temas ESG na seleção de investimentos era detratora de retorno e que não fazia parte do seu dever fiduciário. A verdade, porém, é que problemas relacionados às questões ambientais, sociais e de governança têm tido impactos muito relevantes nos preços dos ativos e, consequentemente, nos retornos dos fundos. Dois exemplos que demonstraram isso foram a queda de 24,9% no preço da ação da Vale no dia seguinte ao acidente na barragem de Brumadinho e a queda de 77,3% na ação da Americanas após a descoberta de fraude em seu balanço.

Um outro ponto importante que leva os investidores a se preocupar com os temas ESG é a questão regulatória. Existe uma tendência global de governos passarem a encorajar ou até mesmo exigir a análise dos fatores ESG por parte de empresas e de investidores institucionais. No Brasil, a CVM lançou uma resolução obrigando as empresas de capital aberto listadas na B3 a publicar, a partir de 2026, relatório com informações financeiras relacionadas à sustentabilidade.

 Integração ESG: um caminho sem volta

 O interesse de investidores pelo tema ESG tem crescido e a Jera entende a importância dos fatores ambientais, sociais e de governança para o retorno de longo prazo dos negócios. Por isso, temos incluído em nossa diligência a análise de fatores ESG para monitorar os riscos e as oportunidades que essa tendência pode trazer aos nossos clientes.