Política, História e Economia Livro

Conflict: A Military History of the Evolution of Warfare from 1945 to Ukraine

A guerra é um fenômeno tão antigo quanto a humanidade, mas também tão dinâmico e complexo quanto a própria história. A guerra é uma forma de violência organizada, que envolve o uso da força para alcançar objetivos políticos, econômicos, ideológicos ou religiosos. A guerra é também uma forma de interação social, que envolve a mobilização de recursos, a construção de alianças, a negociação de interesses e a gestão de conflitos. A guerra é, ainda, uma forma de aprendizado, que envolve a inovação tecnológica, a adaptação estratégica, a avaliação tática e a mudança cultural.

O livro Conflict: A Military History of the Evolution of Warfare from 1945 to Ukraine é uma obra de David Petraeus, um ex-general e diretor da CIA dos Estados Unidos, e Andrew Roberts, um renomado historiador britânico. Eles colaboraram para escrever uma análise abrangente e profunda das guerras desde 1945 até a invasão da Ucrânia por Putin. O livro explora mais de 70 anos de conflitos, mostrando como os líderes e os generais cometeram erros críticos e repetidos, e como eles tiveram que se adaptar a novas armas, teorias e estratégias. O livro também examina o futuro da guerra e os desafios que ela traz para a humanidade.

O livro é dividido em quatro partes principais, que cobrem diferentes períodos e temas da história militar:

  • Parte I: A Guerra Fria (1945-1991): Nesta parte, os autores analisam as origens, as características e as consequências da Guerra Fria, que foi um conflito ideológico, político e econômico entre os Estados Unidos e a União Soviética. Eles mostram como as duas superpotências se enfrentaram indiretamente em várias regiões do mundo, como a Coreia, o Vietnã, o Oriente Médio, a América Latina e a África. Eles também explicam como as duas potências desenvolveram arsenais nucleares cada vez mais poderosos e sofisticados, criando um equilíbrio de terror que evitou uma guerra total, mas também aumentou o risco de uma catástrofe global. Os autores destacam os principais eventos que marcaram o fim da Guerra Fria, como a queda do Muro de Berlim, a dissolução da União Soviética e a reunificação da Alemanha. Eles usam alguns casos de estudo para ilustrar as suas teses e argumentos, como:
    • A Guerra da Coreia (1950-1953): Neste caso, os autores mostram como a Guerra da Coreia foi o primeiro grande conflito da Guerra Fria, que envolveu as forças da ONU lideradas pelos Estados Unidos contra as forças comunistas da Coreia do Norte e da China. Eles mostram como a guerra começou com uma invasão surpresa da Coreia do Norte ao sul do paralelo 38, como os Estados Unidos conseguiram reverter a situação com um desembarque anfíbio em Inchon, como a China entrou na guerra com um ataque maciço que empurrou os aliados até o paralelo 38 novamente, e como a guerra terminou com um armistício que manteve a divisão da península coreana. Petraeus e Roberts também destacam que a guerra foi um teste para as capacidades militares e diplomáticas dos Estados Unidos e da União Soviética, bem como para as suas alianças na região.
    • A Crise dos Mísseis de Cuba (1962): Neste caso, os autores apontam a Crise dos Mísseis de Cuba como o momento mais tenso da Guerra Fria, que quase levou a uma guerra nuclear entre os Estados Unidos e a União Soviética. Petraeus e Roberts discorrem sobre como a crise começou com a descoberta de mísseis soviéticos em Cuba pelos aviões espiões americanos U-2, como o presidente John F. Kennedy decidiu impor um bloqueio naval à ilha para impedir a chegada de mais mísseis, como o líder soviético Nikita Khrushchev enviou uma carta oferecendo retirar os mísseis em troca da retirada dos mísseis americanos na Turquia e na Itália, e como a crise terminou com um acordo secreto entre os dois líderes que evitou o confronto direto. Eles apontam como a crise foi um exemplo de como a dissuasão nuclear funcionou, mas também de como ela foi arriscada e instável.
  • Parte II: A Era Unipolar (1991-2008): Nesta parte, os autores examinam o período em que os Estados Unidos emergiram como a única superpotência do mundo, após o colapso da União Soviética. Petraeus e Roberts enfatizam como os Estados Unidos usaram sua superioridade militar para intervir em diversos conflitos regionais, como a Guerra do Golfo, a Guerra dos Bálcãs, a Guerra do Afeganistão e a Guerra do Iraque. Eles também mostram como os Estados Unidos enfrentaram novos desafios e ameaças, como o terrorismo islâmico, as armas de destruição em massa, as guerras cibernéticas e as mudanças climáticas. Além disso, os autores avaliam os sucessos e os fracassos das políticas externas dos presidentes George H. W. Bush, Bill Clinton e George W. Bush. Para ilustrar suas teses e argumentos, alguns casos de estudo são explorados na obra, como:
    • A Guerra do Golfo (1991): Neste caso, os autores mostram como a Guerra do Golfo foi o primeiro grande conflito da era unipolar, que envolveu uma coalizão liderada pelos Estados Unidos contra o Iraque de Saddam Hussein. Petraeus e Roberts focam em como a guerra começou com a invasão do Kuwait pelo Iraque em agosto de 1990, como os Estados Unidos conseguiram formar uma ampla aliança internacional para condenar a agressão e autorizar o uso da força pela ONU, como os Estados Unidos lançaram uma campanha aérea devastadora contra as forças iraquianas em janeiro de 1991, e como os Estados Unidos iniciaram uma ofensiva terrestre que libertou o Kuwait e derrotou o Iraque em fevereiro de 1991. Eles destacam como a guerra foi um exemplo de como os Estados Unidos usaram sua superioridade tecnológica e sua liderança política para impor sua vontade no cenário mundial.
    • Os Ataques de 11 de Setembro (2001): Os autores enfatizam que os ataques de 11 de setembro foram o evento mais traumático da era unipolar, e mudaram radicalmente a percepção dos Estados Unidos sobre sua segurança e seu papel no mundo. Eles descrevem como os ataques foram planejados e executados pela rede terrorista Al-Qaeda, liderada por Osama bin Laden, e envolveram o sequestro de quatro aviões comerciais que foram usados para atingir as Torres Gêmeas do World Trade Center em Nova York, o Pentágono em Washington e um campo na Pensilvânia, causando quase 3 mil mortes e um enorme impacto econômico e psicológico nos Estados Unidos e no mundo. Petraeus e Roberts discorrem sobre como os ataques foram um exemplo de como os Estados Unidos enfrentaram uma nova ameaça assimétrica e global, que exigiu uma resposta militar e diplomática sem precedentes.
  • Parte III: A Era Multipolar (2008-2014): Nesta parte, os autores analisam o período em que o mundo se tornou mais multipolar, com o surgimento de novos atores e potências regionais, como a China, a Rússia, o Irã, a Índia e o Brasil. Eles mostram como esses países desafiaram a hegemonia dos Estados Unidos em diferentes áreas geográficas e temáticas, como a Ásia-Pacífico, a Europa Oriental, o Oriente Médio, a África e a América Latina. Petraeus e Roberts também destacam o envolvimento desses países em diversos conflitos armados ou diplomáticos com os Estados Unidos ou seus aliados, como a Guerra na Geórgia, a Guerra na Líbia, a Guerra na Síria, a Crise na Ucrânia e a Crise Nuclear do Irã. Eles utilizam alguns casos de estudo para ilustrar as suas teses e argumentos, como:
    • A Guerra na Geórgia (2008): Os autores indicam a Guerra na Geórgia como o primeiro grande conflito da era multipolar, que envolveu a Rússia contra a Geórgia, um pequeno país do Cáucaso que buscava integrar-se à OTAN e à União Europeia. Eles discorrem sobre o início da guerra, que começou com uma escalada de tensões entre as duas partes sobre as regiões separatistas da Ossétia do Sul e da Abkházia, que eram apoiadas pela Rússia, e a Geórgia lançou uma ofensiva militar para retomar o controle da Ossétia do Sul em agosto de 2008. A Rússia reagiu com uma intervenção maciça que invadiu o território georgiano e bombardeou alvos civis e militares, e a guerra terminou com um cessar-fogo mediado pela França que reconheceu a independência das regiões separatistas. Petraeus e Roberts ilustram como a guerra foi um exemplo de como a Rússia usou sua força militar para afirmar seus interesses na sua vizinhança e desafiar a influência dos Estados Unidos e da Europa na região.
    • A Crise na Ucrânia (2014): Neste caso, os autores mostram como a Crise na Ucrânia foi o conflito mais grave da era multipolar, envolvendo a Rússia contra a Ucrânia, um grande país da Europa Oriental que também buscava integrar-se à OTAN e à União Europeia. Petraeus e Roberts comentam sobre o início da crise, que começou com uma revolta popular contra o presidente ucraniano Viktor Yanukovych, que rejeitou um acordo de associação com a União Europeia em favor de um acordo com a Rússia em novembro de 2013. Após isso, os protestos se transformaram em uma revolução que derrubou Yanukovych em fevereiro de 2014, e a Rússia aproveitou a instabilidade para anexar a península da Crimeia em março de 2014, apoiando uma rebelião armada das regiões orientais da Ucrânia contra o novo governo pró-ocidental em Kiev. Os autores colocam essa crise como um exemplo de como a Rússia usou sua intervenção militar para impedir a integração da Ucrânia ao Ocidente e para reafirmar seu domínio sobre o espaço pós-soviético.
  •  Parte IV: O Futuro da Guerra (2014-): Nesta parte, os autores examinam o futuro da guerra e os desafios que ela traz para a humanidade. Eles discorrem sobre as tendências e as inovações que podem mudar o cenário militar nos próximos anos ou décadas, como as armas hipersônicas, as armas autônomas, as armas biológicas, as armas espaciais e as armas cibernéticas. Eles também discutem as questões éticas, legais e morais que essas armas levantam, como a responsabilidade, a proporcionalidade, a discriminação e a humanidade. Petraeus e Roberts propõem algumas recomendações e soluções para prevenir ou resolver os conflitos futuros, como o fortalecimento das instituições internacionais, o diálogo multilateral, a cooperação regional e a diplomacia preventiva. Eles usam alguns casos de estudo para ilustrar as suas teses e argumentos, como:
    • A Guerra Cibernética (2010-): Os autores mostram como a guerra cibernética é uma nova forma de conflito que envolve o uso de computadores e redes para atacar ou defender sistemas de informação e infraestrutura crítica. Eles descrevem como a guerra cibernética pode ser usada para fins de espionagem, sabotagem, propaganda ou dissuasão, e ser conduzida por estados, grupos ou indivíduos, podendo ter efeitos físicos ou psicológicos. Eles mostram como a guerra cibernética foi usada em diversos casos, como o ataque do vírus Stuxnet contra o programa nuclear iraniano em 2010, os ataques dos hackers russos contra a Estônia em 2007 e contra a Ucrânia em 2014, os ataques dos hackers chineses contra empresas e instituições americanas em 2015, e os ataques dos hackers norte-coreanos contra a Sony Pictures em 2014.
    • A Guerra Espacial (2023-): Neste caso, os autores apontam a guerra espacial como uma forma emergente de conflito que envolve o uso de satélites e veículos espaciais para atacar ou defender alvos no espaço ou na Terra. Para Petraeus e Roberts, a guerra espacial pode ser usada para fins de vigilância, comunicação, navegação ou ataque, sendo conduzida por meio de armas cinéticas, armas de energia dirigida ou armas eletrônicas, e podendo ter efeitos estratégicos ou táticos. Eles apresentam exemplos de como a guerra espacial foi usada em alguns casos, como no teste do míssil anti-satélite chinês em 2007, o teste do míssil anti-satélite indiano em 2019, o lançamento do satélite espião iraniano em 2020, e o lançamento da Força Espacial americana em 2023.

O livro é uma obra muito interessante e informativa, que combina a experiência prática de Petraeus com a erudição de Roberts. O livro é um recurso valioso para quem quer entender melhor a história, a evolução e o futuro da guerra. O livro também é um alerta para os perigos e as consequências da guerra, que podem ameaçar a paz, a segurança e a sobrevivência da humanidade. Ele nos ensina que a guerra não é inevitável, mas sim uma escolha humana, que pode ser evitada ou limitada por meio da razão, da sabedoria e da compaixão. Essa obra nos convida a refletir sobre o nosso papel e o nosso dever como cidadãos do mundo, que podem contribuir para a construção de um mundo mais justo, mais pacífico e mais próspero.

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